TALATONA
ROCHA PINTO
quinta-feira, 31 de março de 2011
Luanda - 31/03/2011
Hoje é o meu penultimo dia de viagem e com uma quase certeza acredito que não se pode falar sobre Luanda pelo olhar da escassez e sim do excesso. Tudo aqui é superlativo, forte, intenso.
Não existe mais ou menos: se você é rico, é rico mesmo e o oposto é desumano
Por outro lado, não tem como não se fascinar com um povo que ao ouvrir um simples Bom Dia, diz muito obrigado. Para o Luandense você realmente está desejando um bom dia para ele.
As pessoas são regidas por um tempo interno completamente diferente. O que está combinado para às 14:00 pode virar às 15:00 como às 12:00. E por conta disso a nossa pergunta diária é: onde será que está o Osvaldo, nosso motorista.
Hoje pela manhã fui a Talatona (claro que Osvaldo não chegou no horário combinado), bairro chique com um shopping que lembra o Barra Shopping. Porém, o caminho de volta de Talatona é por Rocha Pinto, periferia, sujeira, trânsito infernal e condições absurdas de sobrevivência.
Não sei se falei, mas Luanda parece um grande canteiro de obras. A Provincia está sendo construída e o povo está buscando ferozmente a construção de sua própria identidade. Jornais, programas de TV, conversas de rua, tudo gira em torno desta construção e da certeza de que a informação e o conhecimento são fundamentais neste processo.
Vi hoje uma reportagem na TV sobre um treinamento dado para parteiras. A parteira que estava dando aula para as demais falou uma frase que me marcou: nenhuma mulher deve morrer quando está dando a luz.
Mas isso não chega em Rocha Pinto, onde há o maior contingente da população. Nada chega nas periferias...
Não existe mais ou menos: se você é rico, é rico mesmo e o oposto é desumano
Por outro lado, não tem como não se fascinar com um povo que ao ouvrir um simples Bom Dia, diz muito obrigado. Para o Luandense você realmente está desejando um bom dia para ele.
As pessoas são regidas por um tempo interno completamente diferente. O que está combinado para às 14:00 pode virar às 15:00 como às 12:00. E por conta disso a nossa pergunta diária é: onde será que está o Osvaldo, nosso motorista.
Hoje pela manhã fui a Talatona (claro que Osvaldo não chegou no horário combinado), bairro chique com um shopping que lembra o Barra Shopping. Porém, o caminho de volta de Talatona é por Rocha Pinto, periferia, sujeira, trânsito infernal e condições absurdas de sobrevivência.
Não sei se falei, mas Luanda parece um grande canteiro de obras. A Provincia está sendo construída e o povo está buscando ferozmente a construção de sua própria identidade. Jornais, programas de TV, conversas de rua, tudo gira em torno desta construção e da certeza de que a informação e o conhecimento são fundamentais neste processo.
Vi hoje uma reportagem na TV sobre um treinamento dado para parteiras. A parteira que estava dando aula para as demais falou uma frase que me marcou: nenhuma mulher deve morrer quando está dando a luz.
Mas isso não chega em Rocha Pinto, onde há o maior contingente da população. Nada chega nas periferias...
terça-feira, 29 de março de 2011
Luanda - 29/03/2011
Hoje o dia foi intenso. Ouvi muitos Luandenses falar sobre seus desejos, suas vidas e seus sonhos. Sonhos como de um rapaz de 20 poucos anos que deseja ganhar uma bolsa para estudar tecnologia no Brasil. Ele mora com 20 pessoas e tem a plena consciência de que nunca irá realiza-lo.
Por aqui existem muitos sonhos como esses plantados em uma terra rica em diamante e petróleo, mas que não se tem acesso. Os privilegiados que conseguem algum tipo de formação mínima talvez com muita sorte possam trabalhar em bancos.
Chorei ao ouvir esses jovens e não quero falar sobre isso, pelo menos agora.
Quero contar algumas curiosidades locais:
Se você acha alguma coisa muito boa grite bem alto que esta coisa é CUIA
Se alguém lhe oferecer pica pau de novilho não se assuste, é apenas picadinho de carne
Quer fazer as unhas? Você poderá fazer na rua a céu aberto, pé e mão ainda decorados com florzinhas e etc. O melhor de tudo, são os homens que exercem a profissão de manicure.
Os prédios por aqui possuem péssima conservação e consequentemente os elevadores são de testar a coragem de qualquer um, ainda mais porque vira e mexe falta luz. Hoje me aventurei em entrar sozinha em um elevador, porém um rapaz que estava na portaria percebeu o meu receio e se ofereceu para me acompanhar no trajeto até o terceiro andar.
Ele se chama Muimba Pepsi. Muimba significa encantado e Pepsi, bem é homenagem ao refrigerante.
Existe uma TV local que se chama TV Zimbo, nesta TV há um programa chamado Sexto Sentido (virei fã) apresentado por Maria Dina, uma espécie de Ophra angolana.
Lá pelas tantas Dina pega um jornal Semanário Econômico e lê as manchetes dos 5 principais cadernos.
Ela lê pausadamente e rapidamente explica o contexto de cada notícia, sempre reforçando a importância de se estar bem informado, para quem sabe conseguir melhorar de vida e trabalhar em um banco.
Por aqui existem muitos sonhos como esses plantados em uma terra rica em diamante e petróleo, mas que não se tem acesso. Os privilegiados que conseguem algum tipo de formação mínima talvez com muita sorte possam trabalhar em bancos.
Chorei ao ouvir esses jovens e não quero falar sobre isso, pelo menos agora.
Quero contar algumas curiosidades locais:
Se você acha alguma coisa muito boa grite bem alto que esta coisa é CUIA
Se alguém lhe oferecer pica pau de novilho não se assuste, é apenas picadinho de carne
Quer fazer as unhas? Você poderá fazer na rua a céu aberto, pé e mão ainda decorados com florzinhas e etc. O melhor de tudo, são os homens que exercem a profissão de manicure.
Os prédios por aqui possuem péssima conservação e consequentemente os elevadores são de testar a coragem de qualquer um, ainda mais porque vira e mexe falta luz. Hoje me aventurei em entrar sozinha em um elevador, porém um rapaz que estava na portaria percebeu o meu receio e se ofereceu para me acompanhar no trajeto até o terceiro andar.
Ele se chama Muimba Pepsi. Muimba significa encantado e Pepsi, bem é homenagem ao refrigerante.
Existe uma TV local que se chama TV Zimbo, nesta TV há um programa chamado Sexto Sentido (virei fã) apresentado por Maria Dina, uma espécie de Ophra angolana.
Lá pelas tantas Dina pega um jornal Semanário Econômico e lê as manchetes dos 5 principais cadernos.
Ela lê pausadamente e rapidamente explica o contexto de cada notícia, sempre reforçando a importância de se estar bem informado, para quem sabe conseguir melhorar de vida e trabalhar em um banco.
segunda-feira, 28 de março de 2011
Luanda -28/03/2011 - Algumas Fotos...
Vista aérea de Joanesburgo
Desesperado
por Pizza?
Compre na máquina do aeroporto
Indo para Luanda...
Vista aérea de Luanda
Portal da Província
Transporte
Onde trocamos o dinheiro
Típico prédio...
Aluguel de 2 mil dólares
Vista da janela do meu quarto.
O container azul é a moradia dos chineses que trabalham na construção civil
Kit de boas vindas
Promoter da "festa do Facebook"
Céu II
Bebê conforto
Mora-se onde é possível
domingo, 27 de março de 2011
Luanda - 27/03/2011
Depois de fazer 3 trocas de avião e passar por 4 aeroportos, finalmente chegamos a Luanda - eu, Ana Lúcia e Felipe.
A visão do alto desta província parece uma grande mesa de pingue pongue coberta de barro vermelho e com um amontoado de caixinhas de fósforo.
De perto, este amontoado ganha cores, contornos e rostos. Gostaria de ser uma grande antena parabólica como tantas espalhadas pelos prédios mal conservados, para absorver todas as sensações que este lugar provoca.
O aeroporto 4 de Fevereiro é mínimo e assim que você sai, parece que Luanda vai te engolir. Por sorte, que depois mais virou azar, tínhamos a nossa espera Osvaldo, o simpático motorista, contratato para nos acompanhar.
Osvaldo foi extremamente solicito quando pedimos ajuda para trocar os nossos dólares em Kwanza (1 kwanza é igual a mais ou menos 0,001 dólar).
Não trocamos o dinheiro em casa de câmbio ou no hotel, trocamos na rua São Paulo, dentro do carro do Osvaldo, fazendo conta e negociando com 3 caras na janela do carro.
Na mesma rua podemos ver policiais batendo em um homem.
Mas Lunda é assim, cheia de contrastes, sorrisos e musicalidade espalhada pela rua com suas mulheres andando com uma elegância infinita com cestos de frutas e ovos, apoiados na cabeça.
Ainda é muito cedo para falar sobre os luandenses, mas posso dizer que o sorriso é largo, despretencioso e os penteados das meninas são bárbaros, com contas ou cachos de matar de inveja.
Estamos hospedados no hotel Trópico, considerado 4 estrelas para o lugar, mas para nossa referência seriam 3 estrelas. O quarto é limpo e ponto.
Da janela do meu quarto posso ver os aglomerados das caixinhas de fósoforo. A terceira coisa que queria fazer era conhecer a perferia de Luanda. Bem, a cada vez que olho a janela me encontro com um pedacinho dela.
No meu quarto havia um kit de boas vinda, com maçã, pera e uma laranja coberta de mofo - entendi todas as recomendações dadas e me lembro de uma frase: NÃO TOQUE EM NADA QUE NÃO SEJA VOCÊ MESMO
Fim de tarde decidimos sair com Osvaldo para conhecer um pouco mais deste grande caldeirão. Fomos a Ilha de Luanda e como o nome já indica é retórico dizer que é uma região de praia. O céu e o por do sol africano são deslumbrantes.
Ao final do nosso passeio, fomos a um restaurante super agradável, porém caríssimo, acho que por isso resolvemos esquecer o nome do lugar. Para se ter uma breve idéia, comi um omelete de aspargos e tomei uma cerveja chamada EKA (concorrente da cerveja CUCA), total da conta 50 dolares....
Osvaldo ficou de nos buscar no restaurante por volta das 22:00h e simplesmente não apareceu.
A cada candongueiro que passava, pensavamos se seria muito arriscado embarcar na kombi branca e azul depois das 10 da noite...
Ao final conseguimos um outro motorista para nos levar pro hotel.
Claro que tiramos várias fotos deste dia "amazing"; coloco amanhã depois do trabalho
A visão do alto desta província parece uma grande mesa de pingue pongue coberta de barro vermelho e com um amontoado de caixinhas de fósforo.
De perto, este amontoado ganha cores, contornos e rostos. Gostaria de ser uma grande antena parabólica como tantas espalhadas pelos prédios mal conservados, para absorver todas as sensações que este lugar provoca.
O aeroporto 4 de Fevereiro é mínimo e assim que você sai, parece que Luanda vai te engolir. Por sorte, que depois mais virou azar, tínhamos a nossa espera Osvaldo, o simpático motorista, contratato para nos acompanhar.
Osvaldo foi extremamente solicito quando pedimos ajuda para trocar os nossos dólares em Kwanza (1 kwanza é igual a mais ou menos 0,001 dólar).
Não trocamos o dinheiro em casa de câmbio ou no hotel, trocamos na rua São Paulo, dentro do carro do Osvaldo, fazendo conta e negociando com 3 caras na janela do carro.
Na mesma rua podemos ver policiais batendo em um homem.
Mas Lunda é assim, cheia de contrastes, sorrisos e musicalidade espalhada pela rua com suas mulheres andando com uma elegância infinita com cestos de frutas e ovos, apoiados na cabeça.
Ainda é muito cedo para falar sobre os luandenses, mas posso dizer que o sorriso é largo, despretencioso e os penteados das meninas são bárbaros, com contas ou cachos de matar de inveja.
Estamos hospedados no hotel Trópico, considerado 4 estrelas para o lugar, mas para nossa referência seriam 3 estrelas. O quarto é limpo e ponto.
Da janela do meu quarto posso ver os aglomerados das caixinhas de fósoforo. A terceira coisa que queria fazer era conhecer a perferia de Luanda. Bem, a cada vez que olho a janela me encontro com um pedacinho dela.
No meu quarto havia um kit de boas vinda, com maçã, pera e uma laranja coberta de mofo - entendi todas as recomendações dadas e me lembro de uma frase: NÃO TOQUE EM NADA QUE NÃO SEJA VOCÊ MESMO
Fim de tarde decidimos sair com Osvaldo para conhecer um pouco mais deste grande caldeirão. Fomos a Ilha de Luanda e como o nome já indica é retórico dizer que é uma região de praia. O céu e o por do sol africano são deslumbrantes.
Ao final do nosso passeio, fomos a um restaurante super agradável, porém caríssimo, acho que por isso resolvemos esquecer o nome do lugar. Para se ter uma breve idéia, comi um omelete de aspargos e tomei uma cerveja chamada EKA (concorrente da cerveja CUCA), total da conta 50 dolares....
Osvaldo ficou de nos buscar no restaurante por volta das 22:00h e simplesmente não apareceu.
A cada candongueiro que passava, pensavamos se seria muito arriscado embarcar na kombi branca e azul depois das 10 da noite...
Ao final conseguimos um outro motorista para nos levar pro hotel.
Claro que tiramos várias fotos deste dia "amazing"; coloco amanhã depois do trabalho
quinta-feira, 24 de março de 2011
Preparativo Luanda -24/03/11
Com dois dias de antecedência, decidi arrumar minha mala para Luanda.
É claro que isso não tem nada a ver com o fato de estar mega ansiosa com a viagem...é apenas porque, porque gosto de preparar minhas coisas com calma.
Quando soube que a empresa que trabalho iria desenvolver uma pesquisa em Luanda e eu seria responsável por este projeto, mais ou menos 3 meses atrás, comecei a ouvir alguns conselhos de quem já tinha estado por lá:
-é fundamental levar repelente e floratil,
-não deixe de colocar na mala rinossoro e um antibioticozinho,
-em hipótese nenhuma escove os dentes com água da torneira e não tome banho de boca aberta.
Hein!?!? Como assim??? Afinal pra onde tô indo??
Por via das dúvidas, ao fazer hoje a mala junto com minha filha (aliás fiquei orgulhosa com minha capacidade de síntese, a mala ficou bem pequena considerando uma viagem de 10 dias), coloquei o repelente, o rinossoro e o floratil. O antibiótico devo comprar amanhã.
Dentro dela também coloquei a quase certeza de que esta não será simplesmente uma "bela viagem" como outras que fiz.
Não sei se por influência do Google map com suas super tomadas de Luanda, dos conselhos dos amigos, da saudade da filha e do marido, do medo de baratas e de alguns olhares estranhos quando digo para onde vou, ou talvez por tudo isso, sinto que Luanda é algo imprevisível.
Ninguém te fala: aí que inveja! Olha não deixe de conhecer tal lugar, ou você tem que jantar no restaurante xpto, porque a comida é barbara. Não, o fato é que todas as referências que me deram deste lugar, se referem a escassez e eu não sei o que esperar de um lugar onde o seu imperativo seja a falta.
Se bem que pensando melhor, quero fazer 3 coisas: dançar o Kuduro, andar de candongueiro e a terceira, bem a terceira é mais complicada.
Viajo depois de amanhã. O plano é sair do Rio de Janeiro, ir pra São Paulo, de São Paulo para Joanesburgo e então, no dia 27, chegar em Luanda.
Não fiz as contas de quantas horas no total levarei pra chegar, me basta saber que vou no sábado e chego no domingo.
Mando notícias.
É claro que isso não tem nada a ver com o fato de estar mega ansiosa com a viagem...é apenas porque, porque gosto de preparar minhas coisas com calma.
Quando soube que a empresa que trabalho iria desenvolver uma pesquisa em Luanda e eu seria responsável por este projeto, mais ou menos 3 meses atrás, comecei a ouvir alguns conselhos de quem já tinha estado por lá:
-é fundamental levar repelente e floratil,
-não deixe de colocar na mala rinossoro e um antibioticozinho,
-em hipótese nenhuma escove os dentes com água da torneira e não tome banho de boca aberta.
Hein!?!? Como assim??? Afinal pra onde tô indo??
Por via das dúvidas, ao fazer hoje a mala junto com minha filha (aliás fiquei orgulhosa com minha capacidade de síntese, a mala ficou bem pequena considerando uma viagem de 10 dias), coloquei o repelente, o rinossoro e o floratil. O antibiótico devo comprar amanhã.
Dentro dela também coloquei a quase certeza de que esta não será simplesmente uma "bela viagem" como outras que fiz.
Não sei se por influência do Google map com suas super tomadas de Luanda, dos conselhos dos amigos, da saudade da filha e do marido, do medo de baratas e de alguns olhares estranhos quando digo para onde vou, ou talvez por tudo isso, sinto que Luanda é algo imprevisível.
Ninguém te fala: aí que inveja! Olha não deixe de conhecer tal lugar, ou você tem que jantar no restaurante xpto, porque a comida é barbara. Não, o fato é que todas as referências que me deram deste lugar, se referem a escassez e eu não sei o que esperar de um lugar onde o seu imperativo seja a falta.
Se bem que pensando melhor, quero fazer 3 coisas: dançar o Kuduro, andar de candongueiro e a terceira, bem a terceira é mais complicada.
Viajo depois de amanhã. O plano é sair do Rio de Janeiro, ir pra São Paulo, de São Paulo para Joanesburgo e então, no dia 27, chegar em Luanda.
Não fiz as contas de quantas horas no total levarei pra chegar, me basta saber que vou no sábado e chego no domingo.
Mando notícias.
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